Depois da visita ao Piódão, resolvemos passar e pernoitar em casa da Dna. Manuela Rolo, a minha Santa Mãe, o que para ela foi uma agradável surpresa, que pecou por a visita ser de curta duração, visto termo-nos de fazer a estrada no dia seguinte.
Após uma noite bem dormida , eis-nos perante um pequeno almoço bem á moda da Beira. Que bem nos souberam aqueles biscoitos feitos num forno a lenha.... ainda quentinhos... uma pequena, grande maravilha.
Chegada a hora da despedida, eis-nos novamente pela Estrada da Beira fora.
Próxima paragem... Linhares da Beira.
Uma centena de kms passados, deixamos a Estrada da Beira, e apanhamos uma estrada municipal, cujo piso e traçado não é dos melhores, mas o objectivo que nos determinou é superior a tudo isso. Eis-nos num vale de onde visionamos lá no alto, com toda a sua imponência e grandiosidade o Castelo de Linhares, testemunho vivo de um riquissímo passado histórico, do qual, qualquer Português se deve orgulhar.
Chegados a esta Aldeia histórica, uma das dez aldeias históricas de Portugal, a primeira visita-- o Castelo.
Um belissímo monumento que se ergue a partir de um escarpado maciço granitíco, e cuja arquitectura é essencialmente militar. É um castelo de montanha, com uma mistura de românico e gótico. Devido á sua situação beneficia assim de condições naturais de defesa, aproveitadas pela arquitectura
militar. As muralhas adaptam-se ao terreno, criando eficazes ângulos de tiro e vigia a partir do adarve.
Neste espaço fechado pelas muralhas, podemos observar dois recintos distintos:
O de maior perímetro, corresponderia á alcáçova, dividido por uma muralha e cujo acesso era feito através de um porta interior, e seria um zona de carácter militar. Aqui também se localizava a Torre de Menagem entregue ao Alcaide e ultimo reduto defensivo. O segundo recinto, integrou eventualmente um núcleo populacional civil, embora seja mais provável a sua utilização como espaço para recolher pessoas e gados quando a situação de conflito a isso obrigava. Uma outra torre, situada mais a Este, completava a estrutura defensiva de Linhares.
Em tempos remotos, Linhares, foi uma vila medieval, com foral concedido por D. Afonso Henriques em 1169, que em 1855 virá a perder este estatuto de vila com a reforma administrativa liberal.
Segundo registos escritos, esta povoação foi inicialmente povoada por um povo pré-romano, o povo Túrdulo ( 500 A. C. ),mas também existem registos da passagem dos visigodos, romanos e mouros.
Depois da visita ao Castelo, e de nos podermos deleitar com as maravilhosas paisagens daí observadas, iniciámos a visita ás reliquías desta aldeia.
Começámos pela observação da Calçada Romana, que se pensa, que faria parte da grande via militar que atravessava a Serra da Estrela.
Após tudo isto, e de o estômago estar a necessitar de algo energético, fizemos uma pausa no Largo da Misericórdia, onde nos pudemos sentar e usufruir de um excelente e suculento repasto, regado por um excepcional vinho da região.
Com uma certa dose de preguiça, lá continuámos a nossa visita por estas seculares ruas.
- Vida de turista, custa.... ai se custa!!!!
No Largo da Misericórdia entrámos na Igreja, onde pudemos observar um retábulo de talha barroca, interessantes pinturas e uma preciosa bandeira de procissão, que esteve presente em 1958,na exposição Comemorativa do Nascimento da Rainha Dna. Leonor, fundadora das Misericórdias.
Ao lado da Igreja fica a velha Albergaria do séc. XII, de apoio a viajantes e peregrinos, que terá sido aumentada no séc. XVI, formando-se então o hospital.
Do outro lado do Largo da Misericórdia, fica o Solar da família Corte Real.
Com uma arquitectura barroca da 2ª metade do séc. XVIII, a fachada é enquadrada por pilastras, nela abrindo-se um número regular e simétrico de janelas.
Num edificio, penso que será um Solar, podemos observar duas janelas em estilo Manuelino.
Entramos então na Rua Direita, onde observamos portais de arestas biseladas e janelas Manuelinas, séc. XVI, em solares que testemunham a grandeza desse séc. de ouro, tão fortemente marcado em Linhares.
Continuando a descer por estas empedradas, mas bem tratadas e limpas ruas, eis que chegamos à Praça, maravilhoso local, com um valiosissimo património histórico. Nela podemos ver um conjunto de memórias: o Pelourinho Manuelino, que assinalava um dos poderes consignados no foral: "o exercicío da Justiça". A coroar o Pelourinho uma ornamentação héraldica, a Esfera Armilar e a Cruz de Cristo, simbolos de D. Manuel. O forúm, que foi tribuna para assento dos homens bons do concelho e que, mais recentemente foi chamada a Casa da Câmara. Na fachada principal, toda em granito com poucos vãos, sobressaem os poderosos cunhais e a cornija a enquadrá-la, abrindo-se ao centro o portal e a janela de sacada, por cima as armas reais de Dna. Maria I ( séc. XVIII ). O interior, parte de um átrio lajeado, de onde parte uma escadaria de acesso ao piso superior. No piso térreo existiu, conforme o hábito da época, a cadeia.
A seguir vem o Solar Brandão de Melo, com uma arquitectura de influência neoclássica do séc. XIX, logo a seguir a Capela dos Passos.
Existe também um solar de grande importância, o Solar Pina Aragão, do séc. XVIII/ XIX de influência barroca na composição da fachada principal.
A população de Linhares da Beira infelizmente é escassa, como acontece em todas as aldeias, vive em função do que a terra lhes dá e da pastoricia. Os mais novos abandonam a povoação, procurando ganhar a vida noutras paragens, ficando os idosos e alguns menos idosos, que a saudade obriga a regressar.
E eis que chegamos ao fim do dia, retomando a estrada para Norte, onde pernoitaremos num local ainda desconhecido.