segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Linhares da Beira

Depois da visita ao Piódão, resolvemos passar e pernoitar em casa da Dna. Manuela Rolo, a minha Santa Mãe, o que para ela foi uma agradável surpresa, que pecou por a visita ser de curta duração, visto termo-nos de fazer a estrada no dia seguinte.
Após uma noite bem dormida , eis-nos perante um pequeno almoço bem á moda da Beira. Que bem nos souberam aqueles biscoitos feitos num forno a lenha.... ainda quentinhos... uma pequena, grande maravilha.
Chegada a hora da despedida, eis-nos novamente pela Estrada da Beira fora.
Próxima paragem... Linhares da Beira.
Uma centena de kms passados, deixamos a Estrada da Beira, e apanhamos uma estrada municipal, cujo piso e traçado não é dos melhores, mas o objectivo que nos determinou é superior a tudo isso. Eis-nos num vale de onde visionamos lá no alto, com toda a sua imponência e grandiosidade o Castelo de Linhares, testemunho vivo de um riquissímo passado histórico, do qual, qualquer Português se deve orgulhar.
Chegados a esta Aldeia histórica, uma das dez aldeias históricas de Portugal, a primeira visita-- o Castelo.
Um belissímo monumento que se ergue a partir de um escarpado maciço granitíco, e cuja arquitectura é essencialmente militar. É um castelo de montanha, com uma mistura de românico e gótico. Devido á sua situação beneficia assim de condições naturais de defesa, aproveitadas pela arquitectura
militar. As muralhas adaptam-se ao terreno, criando eficazes ângulos de tiro e vigia a partir do adarve.
Neste espaço fechado pelas muralhas, podemos observar dois recintos distintos:
O de maior perímetro, corresponderia á alcáçova, dividido por uma muralha e cujo acesso era feito através de um porta interior, e seria um zona de carácter militar. Aqui também se localizava a Torre de Menagem entregue ao Alcaide e ultimo reduto defensivo. O segundo recinto, integrou eventualmente um núcleo populacional civil, embora seja mais provável a sua utilização como espaço para recolher pessoas e gados quando a situação de conflito a isso obrigava. Uma outra torre, situada mais a Este, completava a estrutura defensiva de Linhares.
Em tempos remotos, Linhares, foi uma vila medieval, com foral concedido por D. Afonso Henriques em 1169, que em 1855 virá a perder este estatuto de vila com a reforma administrativa liberal.
Segundo registos escritos, esta povoação foi inicialmente povoada por um povo pré-romano, o povo Túrdulo ( 500 A. C. ),mas também existem registos da passagem dos visigodos, romanos e mouros.
Depois da visita ao Castelo, e de nos podermos deleitar com as maravilhosas paisagens daí observadas, iniciámos a visita ás reliquías desta aldeia.
Começámos pela observação da Calçada Romana, que se pensa, que faria parte da grande via militar que atravessava a Serra da Estrela.
Após tudo isto, e de o estômago estar a necessitar de algo energético, fizemos uma pausa no Largo da Misericórdia, onde nos pudemos sentar e usufruir de um excelente e suculento repasto, regado por um excepcional vinho da região.
Com uma certa dose de preguiça, lá continuámos a nossa visita por estas seculares ruas.
- Vida de turista, custa.... ai se custa!!!!
No Largo da Misericórdia entrámos na Igreja, onde pudemos observar um retábulo de talha barroca, interessantes pinturas e uma preciosa bandeira de procissão, que esteve presente em 1958,na exposição Comemorativa do Nascimento da Rainha Dna. Leonor, fundadora das Misericórdias.
Ao lado da Igreja fica a velha Albergaria do séc. XII, de apoio a viajantes e peregrinos, que terá sido aumentada no séc. XVI, formando-se então o hospital.
Do outro lado do Largo da Misericórdia, fica o Solar da família Corte Real.
Com uma arquitectura barroca da 2ª metade do séc. XVIII, a fachada é enquadrada por pilastras, nela abrindo-se um número regular e simétrico de janelas.
Num edificio, penso que será um Solar, podemos observar duas janelas em estilo Manuelino.
Entramos então na Rua Direita, onde observamos portais de arestas biseladas e janelas Manuelinas, séc. XVI, em solares que testemunham a grandeza desse séc. de ouro, tão fortemente marcado em Linhares.
Continuando a descer por estas empedradas, mas bem tratadas e limpas ruas, eis que chegamos à Praça, maravilhoso local, com um valiosissimo património histórico. Nela podemos ver um conjunto de memórias: o Pelourinho Manuelino, que assinalava um dos poderes consignados no foral: "o exercicío da Justiça". A coroar o Pelourinho uma ornamentação héraldica, a Esfera Armilar e a Cruz de Cristo, simbolos de D. Manuel. O forúm, que foi tribuna para assento dos homens bons do concelho e que, mais recentemente foi chamada a Casa da Câmara. Na fachada principal, toda em granito com poucos vãos, sobressaem os poderosos cunhais e a cornija a enquadrá-la, abrindo-se ao centro o portal e a janela de sacada, por cima as armas reais de Dna. Maria I ( séc. XVIII ). O interior, parte de um átrio lajeado, de onde parte uma escadaria de acesso ao piso superior. No piso térreo existiu, conforme o hábito da época, a cadeia.
A seguir vem o Solar Brandão de Melo, com uma arquitectura de influência neoclássica do séc. XIX, logo a seguir a Capela dos Passos.
Existe também um solar de grande importância, o Solar Pina Aragão, do séc. XVIII/ XIX de influência barroca na composição da fachada principal.
A população de Linhares da Beira infelizmente é escassa, como acontece em todas as aldeias, vive em função do que a terra lhes dá e da pastoricia. Os mais novos abandonam a povoação, procurando ganhar a vida noutras paragens, ficando os idosos e alguns menos idosos, que a saudade obriga a regressar.
E eis que chegamos ao fim do dia, retomando a estrada para Norte, onde pernoitaremos num local ainda desconhecido.

2 comentários:

  1. Mário,

    Achei o texto muito interessante. Não sei é possível, mas creio ser conveniente que algumas das fotos estivessem junto ao texto. Assim, viajariamos no contexto podendo visualizar o local da narrativa.

    Considerando que sou brasileria e nunca estive aí, acabo por ter certa dificuldade de localização, tendo que recorrer ao recursos de rolagem de tela para melhor entendimento.

    Fico feliz ao observar que está se aprimorando na tarefa que se propos a fazer.

    Abraço,
    Cibele

    P.S.: eu disse que poderia tardar ao comentar, mas não iria deixar de vir aqui

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  2. Mais uma vez fiquei embevecida com o texto a tua escrita Mário tem muitos traços do Eça de Queirós estou a falar mto a sério. e mais ele nasceu na Póvoa do Varzim e estudou em Coimbra aliás tal como tu era um apaixonado por Coimbra.
    E desculpa a minha franquesa mas se as fotos são boas acredita que o texto é muito muito bom
    bjs

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