quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Piódão ( Aldeia Presépio )

A Serra e os Caminhos---- Por entre caminhos e veredas, hoje estradas, atravessando ou ladeando a Serra do Açor e de tal forma deslumbrados com a paisagem, que nos esquecemos dos precipícios que acompanham a estrada que sai de Arganil, são 40 kms de sucessivas surpresas que terminam numa das mais antigas aldeias serranas de Portugal, o Piódão.
Descendo a Serra da Estrela para se unir á Lousã, por entre o rio Alva e o rio Ceira, a Serra do Açor integra-se na cadeia montanhosa que corta Portugal transversalmente, estabelecendo o limite das serranias de altitudes elevadas que contrastam com as aplanadas orografias do Sul:
O Picoto do Piódão, é o ponto mais elevado, que atinge os 1400m de altitude.
Situada na vertente norte da Serra do Açor, a Paisagem Protegida da Serra do Açor, ocupa uma área de 346ha e integra a Mata da Margaraça-- Reserva Natural-- e a Fraga da Pena-- Reserva de Recreio. Na Fraga da Pena, a vegetação torna-se mais densa, e também nos podemos regalar com as quedas de água limpída e fresquíssima, como também pequenas lagoas que vão surgindo á medida que subimos os penhascos, onde podemos ver rusticos bancos e mesas que nos convidam a um bom repasto.
Num vale perdido da Serra do Açor, deslumbramo-nos com a Mata da Margaraça, mata verde e densa, sempre húmida,, relembra as florestas primitivas que durante séculos cobriam as serranias do Centro.
A Mata da Margaraça, constitui um raro testemunho da vegetação espontânea da paisagem serrana e uma importante reserva genética de vegetação e animais selvagens.
Um bosque onde predominam os carvalhos, castanheiros, cerejeiras bravas, azevinhos, avelaneiras, e muitos outros arbustos. Quanto á fauna podem-se ver cucos, doninhas, raposas, javalis. O açor, que dá o nome á Serra, ainda paira nos céus, assim como o gavião e a águia de asa redonda.

A Aldeia e a Arquitectura---- Subindo pela escarpa abrupta em forma de anfiteatro, humildemente entalhada na paisagem que a envolve, a aldeia do Piódão mantém ainda o traçado antigo e irregular, tão caracteristíco das aldeias medievais.
Ruas estreitas e sinuosas abrem-se aqui e além em recantos diversificados. Vemos o chão de xisto, e ao fundo ouvem-se as águas da ribeira do Piódão, entrecruzadas pelo cristalino chilrear da passarada. Esbarramos então o olhar, nas paredes escuras do casario para enfim se elevar pela montanha que o domina, até ao cume quase coberto pelas nuvéns.
No chão, nas paredes das casas, e nas lousas que lhes servem de cobertura, o xisto impera por toda a aldeia, contrastando com o azul forte das portas e dos frisos das janelas.
A unidade da cor é explicada como consequência do isolamento a que o Piódão esteve sujeito, pois a loja do Piódão só vendia tinta de uma só cor, tal era a inacessibilidade do lugar.
O interior das casas era geralmente dividido em dois pisos: em baixo um piso amplo, a loja, destinado a guardar os produtos de uma agricultura de subsistência; em cima, a madeira de castanho formava as divisões que constituiam a habitação da familia.
Por cima das portas vêem-se algumas pequenas cruzes, diz-se, que são para afastar a trovoada. No Domingo de Ramos os fiéis levam um ramo de oliveira para benzer e, nas noites de tempestade, fazem com ele uma cruz que é posta em cima das brasas da lareira ou na porta principal, invocando assim á proteção de Santa Bárbara para afastar a trovoada.`
Á noite, quando os candeeiros imanam a sua luz suave e amarelicida, toda a aldeia parece transformar-se num presépio iluminado e vivo, merecendo a designação de Aldeia Presépio.
O casario desce de socalco em socalco ao sabor do monte, terminando assim numa vasta praça, onde se situa a Igreja Matriz. É provável que a primitiva igreja date do séc. XVII, mas no final do séc. XIX a fachada da Igreja Matriz ameaçava ruir e foi reconstruída num estilo neo-barroco, por iniciativa do cónego Manuel Fernandes Nogueira.
As quatro torres cilindricas rematadas em cones parecem dar movimento á frontaria, enquanto a torre sineira, de planta quadrada, se encosta a meio da fachada lateral da Igreja.

A Natureza e o Homem---- Há muitos séculos que as verdes pastagens da Serra do Açor atraiam grupos de pastores que para aí levavam os seus rebanhos.
Diz-se que esses pastores seriam os Lusitanos, hábeis criadores de cavalos que povoavam os Montes Hermínios ( Serra da Estrela ).
Ao longo dos tempos as populações foram criando condições para a sua subsistência, conquistando á Serra cada pedaço de terreno cultivado em socalcos. A agricultura, pastoricia e a apicultura, são as principais actividades destas populações.
Próximo do Piódão, passava a antiga estrada real que ligava Coimbra á Covilhã por onde circulavam caravanas de carros de bois que traziam do litoral o peixe e o sal para levarem no regresso a carne, o queijo e os lanificíos destas terras do interior.
Devido á sua interiorização e escondida na Serra do Açor, o Piódão, foi considerado, desde tempos remotos, como o local de eleição para refugio de muitos foragidos da justiça. Por aqui, se terá refugiado o fidalgo Diogo Lopes Pacheco, o único dos assassinos de Dna, Inês de Castro, que conseguiu escapar á fúria de D. Pedro. Por aqui também passaram outros foragidos e salteadores , tais como João Brandão, José do Telhado.
Só na década de 70 é que o Piódão se torna acessivel ao resto do mundo, com a abertura da estrada até á Aldeia em 1972, e a instalação de energia eléctrica em 1978.
Até aquela altura, a única estrada existente terminava a cerca de 12kms do Piódão, e esta distância só podia ser percorrida a pé.
Por todo o povoado nasce agora uma sensação de vazio: a estrada que lhes trouxe o conforto dos tempos modernos, quebra-lhes a solidariedade e a vontade, tira-lhes o destino das mãos e leva-lhes para longe os filhos da terra. Ficam os mais velhos trabalhando os socalcos de terra pouco profunda onde a máquina não pode trabalhar.
E fica também, o sabor da chanfana, do cabrito assado ou do presunto e a aguardente de mel ou de medronho.



Apoio--- Bibliografia---- Aldeias Históricas Portuguesas

1 comentário:

  1. olá amigo gostei muito do teu estilo realista, romantico e,descritivo até ao infimo pormenor o que me fez recordar a escrita de José Maria Eça de Queirós, que aliás é o meu escritor preferido.
    Força continua rebola caixotes.
    bjs já deves saber quem sou
    xau xau
    tina

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