terça-feira, 5 de maio de 2009

Casa de Tormes--- Misto de ficção e realidade !

Sendo eu, uma pessoa de conhecimentos literários limitados, atrevo-me a encarar este item como um grande desafio.... escrever sobre a Casa de Tormes.

No imenso que haverá para dizer, tentarei ser sucinto e breve, o que não será tarefa fácil ,atendendo ao muito que se deveria dizer.

Que me perdoem por qualquer lapso que possa existir.

O muito que se possa dizer sobre a Casa de Tormes, é sempre excessivamente pouco para que se possa dignificar tamanha casa. Ela não é só as paredes que a constituem, a beleza da sua arqutectura, mas também o aspecto literário que aquelas paredes, aquela terra emanam.

Por entre socalcos, vinhas, pinheiros altos, eis que se ergue a célebre Casa de Tormes, imortalizada por Eça de Queiróz na sua grandiosa obra " A Cidade e as Serras ".

Casa em granito, cuja data de construção remonta ao início do séc. XVIII, inicialmente pertencente á Condessa de Resende ( Maria Balbina Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto de Figueiroa de Sousa Holstein ), casada com o 4º Conde de Resende ( António Benedito de Castro ), que por morte destes, foi herdada por sua filha Dna. Emília de Castro, esposa de Eça de Queiróz.

Quando Eça aqui chegou, pela primeira vez, em Maio de 1892, acompanhado pela sua cunhada Benedita, ficou deslumbrado com a beleza natural desta rude terra, laboriosamente trabalhada por mãos suadas de gente humilde e enérgica, como se pode ler na descrição feita por Jacinto e o seu amigo Zé Fernandes em " A Cidade e as Serras ":

" O caminho íngreme e alpestre da estação ( hoje estação ferroviária de Tormes-- Aregos ) até á quinta, é simplesmente maravilhoso. Vales lindíssimos, carvalheiras e soutos de castanheiros seculares, quedas de água, pomares, flores, tudo há naquele bendito monte. A Quinta está situada num alto, um sítio soberbo, que abrange léguas de horizonte ".

Todavia não apreciou a casa da quinta, como se pode constatar numa carta que escreveu á sua esposa:" A casa é feia, muito feia; e á fachada pode-se aplicar, sem injustiça, a designação de hedionda. Tem um arco enorme, e por debaixo dele, duas escadas paralelas, que são de um mau gosto incomparável ".

A mesma apreciação é dada ao seu interior, onde isso é visível na obra " A Cidade e as Serras ", através da descrição feita por Zé Frenandes: " As salas eram enormes, duma sonoridade de casa capitular, com os grossos muros enegrecidos pelo tempo e o abandono, e regelados, desoladamente nús , conservando apenas aos cantos algum monte de canastras ou alguma enxada entre paus. Nos tectos remotos, de carvalho apainelado, luziam através dos rasgões manchas de céu. As janelas, sem vidraças conservavam essas maciças portadas, com fechos para as trancas que, quando se cerram espalham a treva. Sob os nossos passos , aqui e além, uma tábua podre rangia e cedia ".

Eça de Queiróz, acabava de chegar de Paris, cidade supercivilizada, e foi essa circunstância que não lhe permitiu apreciar a construção, tão caracteristíca das casas rurais das pessoas abastadas do Alto Douro:

Foi esta casa herdada em 1892, pela esposa do escritor, Emília de Castro, e toda a zona envolvente, que serviram de inspiração á grandiosa obra " A Cidade e as Serras ". Eça esteve poucas vezes na Casa de Tormes, mas foi o suficiente para que ficasse seduzido por tão maravilhoso local.

Por tudo o que atráz foi dito, como se deve imaginar, o conforto seria coisa inexistente, sendo esta lacuna compensada pelos deliciosos pratos confecionados pela mulher do caseiro, como Eça descreve, á boa maneira Queiroziana, numa carta enviada ao seu amigo Bernardo, Conde de Arnoso: " Parei nas serranias do Douro , em Sta. Cruz, onde fiquei dois dias a descansar, quase devia dizer... a convalescer, do tremendíssimo almoço com que o meu rendeiro me honrou. Logo na manhã da chegada, ás dez horas de uma doce manhã! O prato mais ligeiro era um anho ( cabrito ) assado.

Na cabidela entrava toda uma capoeira. Sobre a mesa, em vez de garrafas, pousava um pipo ! Honrei o festim, depois foram os dois dias, os dois lentos dias de cansaço e digestão, sentado numa pedra, debaixo de um castanheiro. Quando ao cabo de dois dias, senti que já não havia dentro de mim quase nenhum anho e quase nenhuma cabidela, tomei enfim o caminho de Salamanca ".

Foi esta a última estadia de Eça em Tormes, onde sempre dormiu no único quarto com vidraças ( Actualmente a Sala da Cabaia ), que dava para a eira e tinha também uma janela sobre o pátio de entrada. Depois, foi o agravamento da sua doença gastro-intestinal e a morte em 16 de Agosto de 1900, cerca de um ano mais tarde.

Por tudo isto, sou levado a dizer que a Casa de Tormes, é, sem dúvida alguma um misto de Realidade e Ficção. Realidade, únicamente para aqueles que têm ou tiveram a bem-aventurança de a poder conhecer, Ficção, porque Eça fez dela o Solar de Jacinto, na sua obra " A Cidade e as Serras " , imortalizando-a assim .

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